quinta-feira, 2 de abril de 2009

"Million dollar question"

"Segundo uma psicologia muito própria do mundo do futebol, qualquer notícia mais controversa que apareça antes de um grande jogo causa logo desestabilização numa equipa. Se se disser que um jogador vai ser transferido, isto afecta-o de tal forma que o seu rendimento tem logo uma quebra. Por incrível que pareça, os magistrados estão a ficar muito parecidos com os jogadores de futebol. Tudo os desestabiliza.
Dois procuradores, Vítor Magalhães e Paes de Faria, que trabalham no mais sensível departamento do Ministério Público (DCIAP), ambos com mais de dez anos de carreira, sentiram-se pressionados com uma conversa ao almoço? E será que só estavam os três nessa conversa? Foram os procuradores que se queixaram ao sindicato ou à mesa de que estava mais alguém que, à boa maneira dos juristas, fez interpretações do que foi dito e colocou logo a correr a história das pressões?
São perguntas fundamentais, às quais a Procuradoria tem de dar resposta. Porque só assim se percebe todos os contornos. Pressionar um procurador para conduzir uma investigação num determinado sentido é um assunto demasiado grave para ficarem dúvidas. Sob pena de um total descrédito. (...)"
(Carlos Rodrigues Lima)

Como também questiona O Jumento, a quem aproveita o arquivamento do "caso Freeport"? Esta é, como dizem os norte-americanos, a "million dollar question".
É que por detrás de um crime está sempre um motivo, mesmo que fútil. E se existem pressões para o arquivamento, de certeza que existe um motivo para arquivá-lo.
Ora como já alguns defenderam, não faz sentido que seja o próprio Primeiro-Ministro, o principal prejudicado nisto tudo e, consequentemente, o principal interessado em que o processo conclua que nada teve a ver com os eventuais crimes praticados, a pressionar os magistrados titulares do processo.
Há, eventualmente, a hipótese de ser alguém próximo e que, pensando estar a ajudar o amigo (Sócrates), pressionou. Por isso, convém apurar quem pressionou, se pressionou mesmo. (Levantar uma hipótese jurídica não é pressão; se eu, num julgamento, levantar a hipótese da prescrição do crime, mesmo sendo defensor do arguido, estou a pressionar o Tribunal e os Juízes?)

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